Nas faculdades de direito, por muito tempo, ensinou-se que a advocacia se resumia em contencioso. Assim, grande parte dos advogados desconheciam outras formas de atuação, como a consultoria e mediação, por exemplo.
Com isso, o litígio sempre fez parte do “ser” advogado. Em conjunto com o saturamento do mercado jurídico, que conta hoje com mais de um milhão de advogados ativos no Brasil, internalizou-se uma competição muito grande entre os profissionais.
A competição em si não é algo ruim e está presente em nossa sociedade inevitavelmente. Empresas disputam por clientes para manter-se no mercado; profissionais disputam entre si por um emprego ou posição. Mas então, qual era o diferencial da advocacia?
A competição ultrapassava os limites das peças processuais e dos momentos de debates em uma audiência, criando um cenário de rivalidade entre os profissionais e deixando-os reféns do contencioso. Formou-se uma bolha ao redor do advogado.
A cooperação representa uma ação feita em conjunto. Requer a troca de conhecimento, experiências, ideias, com o objetivo de desenvolvimento e progresso mútuos. É o pensar no todo, coletivamente, para benefício de todos e consequentemente, do indivíduo.
O filosofo Mario Sergio Cortella, em seu livro “A Diversidade: Aprendendo a Ser Humano”, explica que: “as grandes conquistas da nossa espécie se deram pela cooperação, não pela competição”. Sua afirmação se dá justamente porque a troca de informações e experiências contribuem para o desenvolvimento de novas habilidades.
Sem a cooperação entre os advogados e, até mesmo, com profissionais de outras áreas, a advocacia estagnou, comprometendo o desenvolvimento do advogado e trazendo deficiências de habilidades como conquistar clientes e promover o seu negócio (Marketing), precificar o seu trabalho (Finanças), comunicar com o público de forma acessível (Comunicação), fazer gestão de pessoas (RH), gerir suas atividades (Administração) e utilizar novas tecnologias para aprimorar sua performance (Informática).
Com a chegada da era digital inicia-se um processo de desconstrução do modelo dos advogados rivais e competitivos ao extremo, mostrando que cooperar é necessário para evolução e inovação da profissão. Neste contexto, é sempre importante lembrar do ditado: “conhecimento não compartilhado é igual dinheiro em um cofre: perde o valor e não rende”.
Ainda que mais tardiamente quando comparado a outras áreas, o mundo jurídico vem percebendo que a cooperação proporciona solidez, economia e agilidade naquilo que se faz junto. Um problema do colega pode ser algo que já se tenha vivenciado. Ajudar ao próximo não o tornará menos competitivo no mercado. Ao contrário, o fará ser mais admirado.
Coopere e compartilhe conhecimento você também!
Advogada Controller. Coordenadora de Controladoria Jurídica no Marins Bertoldi Advogados.